terça-feira, dezembro 07, 2004

02. Profecia

Um dia, sempre penso eu, alguém vai virar pra mim numa dobrada de esquina e dizer que me quer enlouquecidamente, que não pode viver sem mim, que minha vida é a sua vida, dentre outros sentimentalismos baratos e afoitos que conhecemos; e eu, racional até a alma, vou rir disto ou morrer do coração. Até porque não entendo o porquê de eu não poder entender isso, já que me ocorreu em diversas vezes tomar exatamente a mesma atitude. Abraçar chorando, tipo em filme de drama no fim, e querer viver um momento tal como uma eternidade.

O que você espera na sua vida? Que alguém passe a mão na sua cabeça ou meta o dedo na sua ferida? A escolha não é sua e mediante a tudo isto, você faz contas e regras. E chora sem limite. E ri descontrolado. Usa roupas despojadas, faz cara de moderno, pega sol no Posto 9 e fuma maconha pra ser inn.


Um dia, penso eu, não vou mais precisar entender a merda que é o ser humano, este grandioso manipulador de sentimentos e dores, este imenso punheteiro de ego, vou apenas deitar me nas areias de uma praia e respirar o vento que me for possível. Sem beijos, sem abraços, enfim, sem dobradas de esquinas ou finais felizes.