sexta-feira, setembro 02, 2005

É mesmo um mal

O pai tá aqui, eu não tenho muita paciência. Nem comigo, que dirá com alguém doente. Tá certo - repetem isso sempre - é meu pai, é meu pai, é seu pai, seu pai... Mas eu não tenho aptidão. Fico nervoso porque ele - não sei se propositalmente ou pra poupar-se - não diz os verbos, as ações, o que quer de uma vez direto. É sempre um: David, David, David, David, David - cinco maçantes e repetidas vezes. Isso ouvido umas vinte vezes por dia soa como um mantra de massacre para mim. Eu sei, é meu pai, eu sei, ele precisa que eu o ajude. Mas me desespero, as vezes sou ríspido, frio, mesmo que esse não seja o sentimento que eu gostaria de externar. Mas sou humano, não quero culpas, quem passa por isso um dia sabe como nos tornamos facilmente vítimas do cansaço, que se torna grosseria sem que se queira. É uma doença maldita esse "mal de parkinson". Minha avó teve. Meu avô dizia: É a doença do capeta! Não tenho nada contra o fulano aí, mas é uma doença infernal mesmo. A pessoa não conseguir fazer o que quer e a cabeça lá, funcional enquanto os neurônios não morrem por completo, é uma tortura serena e lenta. Hoje ele me disse que vai ficar curado - com o lance das células-troncos vindo a tona, é bem possível mesmo - mas minha frieza só me devolveu o silêncio para o que ele disse. É meu pai, eu sei, repetem de novo, mas eu sou realista e humano como ele.

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